Esmalte da Clara, flor de cabelo da Márcia, case de celular da Helô, bordões do Félix. O que isso tudo tem em comum? Tudo virou tendência! Pessoas exclamando frases do Félix sem parar, lojas incluindo em seus produtos os mesmos objetos das novelas e nos salões de beleza só pedem o esmalte azulão da Clara, personagem da novela das nove. Influência ou tendência? Efeito da mídia ou uma simples identificação?
Duvido que o “Desapega Desapega” não seja lido de forma cantada conforme o ritmo da música comercial e, mais ainda, que você não inclui o “OLX” no final; ou que o número do Totosinho não seja cantado junto com o “Totosinho é bem bom”. Com certeza quando o Compadre Washington aparece na propaganda, você fala junto com ele o “Danada” ou o “Papito” do Supla.
De fato, as propagandas e as novelas se inserem de forma marcante em nossas vidas e no nosso imaginário. Sabemos de cor o texto e a música das diversas propagandas que circulam pela televisão e reproduzimos as frases das personagens de filmes e novelas em contextos de todos os tipos.
Não é à toa que a Globo tem uma loja virtual que comercializa os objetos e acessórios das novelas e que, a cada dia, recebe inúmeros pedidos e perguntas sobre onde vende aquele macacão da Helô ou o collant da Clara todo aberto nas costas, por exemplo. Páginas do “Félix Bicha Má” no Facebook com 2 milhões de curtidas e do “Sabe de Nada Inocente” do Compadre Washington, memes com frases da Carminha e fotos com o efeito congelado da novela Avenida Brasil, marcaram e seguem fazendo sucesso no dia a dia das pessoas.
Há quem diga, com revolta, que tudo isso não passa de uma bobagem, de uma alienação grotesca de gente que se deixa influenciar pela mídia. Pintar as unhas com a cor da personagem da novela é, para esses, no mínimo um atestado de gente sem personalidade. E esse pensamento pequeno de quem acredita que aqueles que assistem às novelas são pessoas de baixa instrução e que torcer pelo desfecho da obra é no mínimo vergonhoso, aumentou de uma forma surpreendente.
Em uma época em que os protestos estão em alta e as denúncias às emissoras, em especial a Globo, por seus noticiários intencionados e pela manipulação mascarada, até aquilo que envolve puro entretenimento é questionado e julgado. Claro, não estou dizendo que concordo com as notícias cheias de juízo de valor e nada imparciais, mas discordo de quem bate no peito e diz que nada é válido para ser assistido.
Não é por cantar junto com a propaganda, por ter o desejo de comprar algo que você achou bonito na personagem da novela ou torcer pela descoberta da traição da vilã, que a pessoa é alienada e influenciável. Acho que o problema é justamente confundir entretenimento com programas de cunho informativo. Então parem, parem de pensar pequeno, parem de achar que inteligentes e bem informados são aqueles que veem séries e filmes com olhos técnicos e distanciados e caiam na real: alienados são vocês que não refletem sobre o que circula na internet onde as pessoas levantam a bandeira de que tudo não passa de alienação, filhos da mídia são vocês que não sabem separar as coisas, que não conseguem dar o valor que cada informação possui, julgando inflexivelmente ou é zero ou é cem.
Somos hábeis e inteligentes suficientemente para captar, elaborar, aprender, absorver e desprezar o que sobrou de qualquer tipo de mídia e expressão, sem que sejamos preconceituosos ou juízes censores do que seja bom ou ruim.